sábado, maio 27, 2006

Sábado pela manhã



Sábado pela manhã. Adoro estes dias.
Levanto-me e em passo ligeiro dou uma olhadela pela casa. Quase perfeito.
Tomo um duche com tudo aquilo a que tenho direito, corpo nu, como quem se despe de tudo. Sinto o cheiro dos óleos com que me mimo, dos verdes espalhados pela casa, do insenso de jasmim que deixo correr. Água fria como quem pede que acorde, já durmo há alguns dias. Acorda, acorda, por favor acorda. Afasto daqui o pensamento e enrolo-me numa toalha. Aconchego-me enquanto escolho um vestido. Está tanto calor que quase não respiro. Penso que se o fizer mesmo devagarinho, não dou por nada. Visto-me. Adoro andar descalça! Vou até lá fora, sou apanhada de surpresa quando fica feliz por me ver. Este cão é doido! Festa na tola, cócegas na barriga, ajoelho-me perante tanta meiguice e fico ali a brincar. "Pronto, já chega, senão habituas-te!" digo em tom de criança tirana. Grrr.
Preciso de um jarro de água, vamos lá alimentar estas plantas todas. Quero tudo verde, cheio de cor. Parece que ouvem, quando viro costas está tudo resplandecente. Pego na cesta, calço as socas e saio à rua. Tomo um café que detesto. Yach! compro o jornal, e sento-me a lê-lo. "Deixa cá ver o que se passa." Perco-me na leitura, olho o relógio e saio a correr.
Quando chego à praça vejo tudo em alvoroço. Isto é bestial, não suporto sítios fechados e cinzentos. Qual modelo, qual continente!
"Bom dia, senhor!"."Olá, bom dia menina! O costume?", "Sim, sim" estou mais atenta ao perfume das ervas aromáticas. Verdes, vermelhos, castanhos, roxo e outras cores e formas. Passo a mão por tudo, sem agarrar nada. "Está bem disposto? Prepare-me tudo, eu volto já".
Estudo quem passa, "que simples". "Tenho aqui um peixinho muito bom, olhe para isto, guardei-o para si.", "Sim está bem, venha daí esse, aqueles chocos e aquilo ali." Nunca sei o nome das coisas. "Aquele acho que o estou a reconhecer, vi-o no Oceanário!Lá tem muito mais graça" e sorrio. O gajo ri-se, e diz que sim, que andam por lá.
Dou mais uma volta, passeio entre cheiros, cores, pessoas e sabores. Agrada-me isto. Roubo uma azeitona. "Aaaaaaaaaaaiii, queeemmmm é que quer cebolas??????" gritam lá do fundo. Eu quero! cebolas, alhos, alecrim e todas aquelas coisas em rama.
Chego a casa e penduro tudo. Preparo as azeitonas do mesmo jeito que a avó fazia, à sombra. Pico os alhos, rasgo os oregãos, rego com azeite. Bebo um batido de fruta madura, vermelha. Ahhh gosto da vida que tenho. Odeio quando me esqueço quem sou, mas acontece. Sento-me na cadeira de madeira e desfolho a revista que acompanha o jornal. Fazem um casal amoroso. Ela sempre interessante, actual, ele sempre muito sério, repleto de conhecimento.
Lembro-me que tenho visitas, bons amigos para receber ao almoço. Isto vai ser uma almoçarada de boa conversa. Música, preciso de música enquanto cozinho. A vida devia ter uma banda sonora, em baixo volume.
Faço uns chocos à algarvia. Recordo que o meu pai dizia sempre que as minhas mãos eram de fada, apenas porque fazia tudo apaixonada, com dedicação. É verdade, aprendi sozinha, mas isto sai sempre bem, e ainda arranjo as flores que comprei no mercado.
Ahhh tranquila, respiro fundo. Bem vinda a casa. Estou em mim, de novo.

2 Comments:

Blogger liliana miranda said...

está repletpo de si mesmo.. é quase um estado de graça!! magnificamente bem escrito!!
jinho

2:05 da manhã  
Blogger jasmim said...

:) senti imensas saudades suas durante esta semana!!! Mas é demasiado boa para mim, o texto não é nada de extraordinário, é só o que sou.

5:53 da tarde  

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