terça-feira, setembro 11, 2007

A espada ou o arado





Existem coisas que para mim são difíceis de entender.

A ideia não é nova: a espada ou o arado.

Desmond Tutu retoma-a, num artigo no Independent:

"The world could eradicate poverty in a few generations were only a fraction of the expenditure on the war business to be spent on peace. An average of $22bn is spent on arms by countries in Asia, the Middle East, Latin America and Africa every year, according to estimates for the US Congress. This sum would have enabled those countries to put every child in school and to reduce child mortality by two-thirds by 2015, fulfilling two of the Millennium Development Goals."

Antes de começar a guerra do Iraque, um político conservador alemão, Jürgen Todenhöfer, escreveu o livro "Wer weint schon um Abdul und Tanaya?" (algo como: "alguém chora por Abdul und Tanaya?"), um manifesto contra a guerra ao terrorismo. Uma das suas afirmações: o Afeganistão precisa muito mais de máquinas que de bombas.

No contexto de ameaça terrorista global, quais são os nossos critérios para escolher entre a espada e o arado?

Agora, que o Afeganistão se tornou um impasse cada vez mais perigoso, o Iraque caótico, e que o Irão está a ser encurralado numa lógica bélica, esta pergunta torna-se cada vez mais urgente:

Para além de manter saudável a indústria de armamento ("a Paz provoca desemprego"), quais são as vantagens de uma guerra?
Não seria mais lógico fazer acordos bilaterais de desarmamento e de cooperação económica?
"E se eles não quiserem?", perguntarão.
"E por é que eles não hão-de querer?", respondo eu.

Desculpem a ingenuidade: no caso particular do Irão, continuo sem saber porque é que o Ahmadinejad não pode ter a bomba atómica, e o Bush, que se fartou de mentir deliberadamente para poder fazer uma guerra que já causou centenas de milhares de mortos (alguém terá a delicadeza de os contar?), pode. Entendamo-nos: não me dá jeito nenhum que o Irão tenha a bomba; o que não sei é como lhes explicar porquê.
E desculpem o maquiavelismo: nada como a fartura para embotar raivas. De barriga cheia, e com empregozinho das nove às seis, ninguém tem muita vontade de se tornar suicida bombista. Ninguém, vírgula: ainda tenho de ir pesquisar sobre o horário de trabalho dos terroristas ingleses. E tentar perceber o que passou pela cabeça daquele rapazinho de um bairro rico da Bay Area, que em finais dos anos 90 abandonou a família e foi para o Afeganistão fazer de taliban.
Em todo o caso, há que procurar caminhos novos. Há que perceber, antes de mais, que "terrorismo" é um nome demasiado vago para um fenomeno polimórfico. Cada caso é um caso. Nesta guerra, o inimigo é invisível - uma "guerra ao terrorismo"???, um pretexto para cumprir a agenda dos neo-conservadores americanos??

Não vamos reduzir a Justiça a uma mera reacção a um mal. Ela não é uma resposta, mas um princípio.
O trabalho por um mundo mais justo não pode depender da pressão do terrorismo. E também não se deve deixar abalar pelos que afirmam que o que move os pobres deste mundo não é a sede de Justiça mas a vontade de ter um SUV.
Isto não é fácil, dirão: a Justiça, sim senhora, muito bonito. Mas e então, o terrorismo?

Já está bastante claro que este nosso novo inimigo (digo assim, embora não saiba do que estou a falar) não está para brincadeiras.
Se não vamos lá com bombas, que tal tentarmos perceber os mecanismos que, do lado de lá e do lado de cá, conduzem a uma guerra, e agir a esse nível?
Nem que isso passe por trocar os campos de ópio do Afeganistão por máquinas de costura e acordos comerciais. Por exemplo.